segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Meu velho (por mim - carta publicada em livro)


"Meu velho" é o nome de uma carta que publiquei num livro intitulado "As cartas que eu nunca mandei", de 2009 - organizado pelo jornalista Marcelo Puglia, de SP. Nesse livro, também fiz toda a parte de revisão textual e copidesque: não só revisão de gramática, mas também mudanças e aperfeiçoamentos textuais nas cartas de cada um dos autores do livro. Foi uma grande experiência para mim.


Totalmente produzida por meu "eu lírico", abaixo, a minha carta intitulada "Meu velho".

Ô, meu velho! Apesar da falta que sinto de tantas coisas, eu sei que você precisava ir. Você se agarrou a tudo que pôde. Sei que já não tinha forças para lutar contra o movimento avassalador e constante que é a vida. Imagino que essa é uma característica comum aos velhos: ter medo da metamorfose, o casulo é mais seguro.

As coisas mudaram tanto... Deixe-me contar sobre o meu tempo. Hoje em dia, meu velho, é preciso muita coragem para falar: as pessoas andam tão magoáveis. Em seu tempo, podia-se ser natural, com algumas restrições. Hoje, a naturalidade é a exceção. Nem tudo é como você imaginava. Seus sonhos, de tempos de liberdade, eram ilusões, pode ter certeza. A cada ano que passa, as obrigações aumentam. Ah, como era bom o seu tempo! E você nem percebia. Não há como explicar, pois são pontos de vista diferentes e, ainda, julgar o passado com olhos do presente é sempre duvidoso.

Espero que se sinta feliz por receber minha atenção. Hoje as pessoas parecem esquecer que seus velhos já existiram. E, caso se lembrem, esquecem-se do aprendizado que deixaram e de compreendê-los. Gostam de recordar histórias, geralmente as que seus velhos estão na posição de heróis ou pobrezinhos. As pessoas costumam contar histórias de heróis para se orgulhar e histórias de pobrezinhos para justificar o sentimento de fracasso, culpando o “cruel destino”.

Meu velho, percebi que quando não me conheço no ato, em você posso encontrar o esclarecimento. Quando choro sem motivo, posso encontrar em você a razão. Como posso recalcar, esquecer – como a maioria faz –, se você ainda motiva minhas emoções?

Oh, meu velho, meu velho eu, meu eu da infância, o eu que já fui... em algum momento você se perdeu de mim... e eu não sei quando! Nem sei se foi de repente, em uma situação qualquer, ou se a vida foi me mudando aos poucos e, sem que eu notasse, foi me distanciando de você. Não sei. Só sei que hoje, num relâmpago de lucidez, olhei-me no espelho e, procurando, não o enxerguei. Então, buscando desesperadamente fotos antigas, não reconheci a mim. O que vi foi um “você”!

Oh, doce ser! Perdoe essa personalidade forte e dura que tomou o seu lugar, atropelando seus sonhos e esperanças. Para mim, ainda mais triste que ter atropelado os sonhos é ter atropelado a sua capacidade de sonhar. Acho que não sei mais fazer isso (neste momento, você diria: “você pode tudo!”. Jamais conheci poder maior que a sua fé!).

Agora, eu me sinto organizando meu interior: fazendo um balanço das perdas e ganhos. Quem sabe o “eu escritor” seja simplesmente o tal “superego”; ou um “alterego” metido a filósofo e psicólogo de si; ou, ainda, o velho eu, só que mais velho ainda, nostálgico e saudosista; talvez eu seja você, velho eu, em tamanho maior, vivendo do jeito que me ensinaram que alguém, em tamanho maior, “deve” viver; tendo emoções “aceitáveis” e desejos considerados normais só porque todos, em tamanho maior, têm. Ou, talvez, eu seja somente um eu que hoje, ao acordar, já não é o mesmo eu que adormeceu... não sei! Não sei! Quem sabe, a identidade nada mais seja que memória... ou que interpretação de si mesmo, ou ainda, um “eu-personagem”, inteligentemente arquitetado como forma de adaptação ao ambiente... E como agora meus horizontes estão se expandindo, a personalidade talvez esteja precisando de alguns ajustes.

Eu vim de você – de tudo o que você viveu, pensou, viu, ouviu, sentiu, do que escolheu, de como agiu, com quem conviveu e de que forma conviveu –, como também, acredito eu, virão outros de mim, sucessivamente... Quem sabe não haja limite para isso! Mas eu creio que, embora tente a todo custo me compreender e descobrir quem eu sou, somente serei capaz de enxergar minha verdadeira “face” quando a carne não mais estiver entre o Eu e o Espelho.

Com toda a compreensão de que, agora, disponho e necessito.

Eu! Nós! Você!

Jeice Campregher

Dedicatória: Pode parecer narcísico que alguém, com a oportunidade de escrever aos outros, escreva uma carta a si mesmo. Mas, nessa primeira análise, esquecem-se de que a formação de quem se é depende também (talvez, principalmente) da convivência com os outros. Dedico a carta aos maiores formadores do (s) meu (s) eu (s): Minha Família (os Darugna e os Campregher)! A eles, devo quem sou hoje e, por eles, todo dia procuro ser melhor. Aos meus amados amigos – quase irmãos – que sempre tenho em meu coração. E, ainda, a meu professor e amigo, Dr. Osmar de Souza. A todos vocês, meu muito obrigada... por tudo! Como Shakespeare escreveu, “a gratidão é o único tesouro dos humildes”.


Jeice Campregher – nasceu em Blumenau, SC, formada em Letras pela Universidade Regional de Blumenau (FURB), mestranda em Educação, professora, revisora de textos, copidesque e webwriting.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Seção 32 - que música linda!


Descobri muito sem querer, ouvindo Furb FM!
A letra foi me envolvendo, surpreendendo, quando vi, tava pirando por ela!
Show!
Vander Lee, parece muito bom compositor!
Vou pesquisar rs...

***

Seção 32

(Vander Lee)

Nem todo fim tem começo
Nem tudo que é bom tem seu preço
Nem tudo que tenho mereço
Nem tudo que brota é do chão

Nem todo rei tem seu trono
Nem todo cão tem seu dono
Nem tudo que dorme tem sono
Nem toda regra, exceção

Nem tudo que morre é de fome
Nem tudo que mata se come
Nem tudo que é dor me consome
Nem toda poesia, refrão

Nem todo carro tem freio
Nem toda partilha é ao meio
Nem toda festa é rodeio
Nem tudo que roda é pião

Nem toda obra se prima
Nem tudo que é pobre se rima
Nem tudo que é nobre se esgrima
Nem tudo que sobra é lixão

Nem tudo que fito é o que vejo
Nem tudo bonito eu almejo
Nem tudo que excita é desejo
Nem todo desejo é tesão

Nem tudo que ganho é o que valho
Nem tudo que jogo é baralho
Nem tudo que cansa é trabalho
Nem tudo que dança é baião

Nem todo amor é em vão
Nem toda crença, ilusão
Nem todo deus, comunhão
Nem todo pecado, perdão




quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Amélie Poulain (pequenos prazeres)

Quem ainda não notou que a Amélie é um dos meus personagens favoritos? Só quem não me conhece mesmo. Cliquei em uma daquelas matérias - às vezes legais, às vezes inúteis - do yahoo. Era sobre vida prazerosa. E, claro, minha querida Amélie foi citada. Abaixo o trecho e, também, o "texto" completo (com direito a um teste inútil, odeio testes):

"Lembra-se do filme O fabuloso destino de Amélie Poulain? Sua encantadora protagonista é um belíssimo exemplo de quem aproveita os prazeres da melhor maneira possível. Ela inventa mil peripécias para fazer as atividades mais corriqueiras e acaba mergulhando em sensações aparentemente banais, como afundar a mão em sacos de grãos, fazer ricochetes na água do Canal St.Martin e de observar na escuridão do cinema as caras dos outros espectadores. Perda de tempo? Para muitos seria, mas para Amélie é uma grande contemplação. A preparação, a espera, o contar as horas fazem parte da brincadeira da vida e com Amélie é possível perceber o quanto essa espera pode ser criativa e prazerosa".

Adoro a expressão "my cinderella boy" (quando ela acha não um sapato, mas um álbum muito estranho de fotografias e tem somente isso, nada mais que isso, para encontrar o seu "cinderella boy"). Ah, adoro o filme todinho!


Ósculos e amplexos a todos!