segunda-feira, 31 de maio de 2010

Frase do dia - Foucault

"Devemos não somente nos defender, mas também nos afirmar, e nos afirmar não somente enquanto identidades, mas enquanto força criativa" (Michel Foucault)


Para Foucault, maior mérito que se afirmar enquanto eu (eu sou isso, eu sou aquilo, eu sei isso, eu posso aquilo, eu já fiz/consegui isso, eu já... eu... eu... eu... blá blá blá - o eu é o que já é, é o velho, é o presente, é o já dado -, enfim, maior mérito), é firmar-se em: o que eu consigo analizar, problematizar pensar sobre o velho ou sobre o que é atualmente vigente para, então, tentar pensar o "novo"? Mesmo que não seja um novo bem novo, isso não importa, o importante é ampliar, é ir além.

Jeice Campregher

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ode a capacidade de se posicionar

Ode: lembrando-me das aulas de Literatura, pode-se dizer que é homenagem. Este texto, portanto, é uma homenagem à capacidade de se posicionar. Acho que, hoje em dia, muitas pessoas andam perdendo essa capacidade em suas vidas diárias. Principalmente em seus relacionamentos (mais) íntimos.


Penso que eu tenha passado a apreciar essa postura por conviver num meio em que, essa habilidade/capacidade é questão de sobrevivência. No meio acadêmico, para quem faz pesquisa, ou você sabe se posicionar, firmar-se em uma teoria, ou você não tem futuro. Em outras palavras: você não passa seriedade. Na vida diária, claro que seria abusivo querer que alguém cite a fonte que embasou uma ação, uma não-ação ou algum dizer. Contudo, ainda acho adequado saber dizer algo mais consistente do que “fi-lo porque qui-lo” (fiz isso porque quis isso).


Ao mesmo tempo em que me ponho a favor da capacidade de se posicionar (olha eu mesma, neste texto, posicionando-me), escancaro meu terror para com o uso da ironia. Ironia é um jeito muito fraco de (tentar) mostrar força ou alguma superioridade. Ser irônico (a) com coisas, com idéias, enfim, ser irônico (a) com regras/normatizações que os homens impõem a eles mesmos, ok, ainda vai. Isso tem lá sua relevância social, moral e antropológica (estou fazendo piada, ok?! Estou “hiperbolando”: utilizando a hipérbole). Por outro lado, ser irônico (a) com pessoas, é muita covardia. Por quê? Bem, porque difícil mesmo é não ser irônico. Difícil é dizer o que pensa sem figuras de linguagem: sem eufemismos, sem metáforas, sem metonímias e, claro, sem a sacana da ironia.


Um aviso aos irônicos: ironia não passa respeito. O que passa respeito é olho nos olhos. É explicar seu posicionamento com frases completas. É mostrar que consegue defender seus pontos de vista sem apelação. É expressar o que sente e pensa com a linguagem/sinceridade do coração. Isso sim passa respeito. Quem usa de ironia raramente consegue, sequer, olhar nos olhos. Aí está outra prova que ironia é para gente cagona.


Imagino que parte dos irônicos nem sabe que assim são. Virou mania. Virou hábito. Usam e nem se dão conta. E, dessa forma, também não refletem sobre a impressão que isso causa na outra pessoa. No meu caso: vai cagando com o respeito. Não cultivo respeito por gente cagona – sejam as que demonstram através da ironia; sejam as que demonstram adiando uma conversa, uma discussão, um “dar a cara a bater”. Tem que ter muito peito para sentar ao lado e trazer à baila, provocar uma conversa sobre algo que não ficou muito bem resolvido. E resolvido não é concordância. Não quer dizer isso: na conversa pode-se chegar à conclusão de que não há concordância. E daí? Isso é algo natural. O importante é a conversa em si: nela, ambas as pessoas se conheceram melhor. Aproximam-se, em vez de se afastarem.


OK, basta de fórmulas e manuais. Acho que fugi do assunto. Só queria mostrar meu descontentamento com relação a isso. Dizer que uma relação, sem tal sinceridade, em qualquer nível, é superficial. Meus amigos, mais íntimos, sabem do que falo. Um fala do outro e tá sempre tudo bem: seu/sua fresco (a) pra cá, seu/sua lerdo (a) pra lá. Volta e meia aparece alguma frase do tipo: “você foi muito burro (a) nessa situação, por isso, por isso e por isso... vê se te cria, piá/guria”.


Caso queira mostrar que é alguém que sabe se posicionar com seriedade, fuja da ironia. Aliás, a ironia já é a falta de seriedade. É tratar alguém sem seriedade. É não levar alguém a sério. Por isso, não é de se admirar que ironia faça perder o respeito: afinal, ela própria já é falta de respeito, falta de seriedade. Alguém gosta de ser tratado ou de ver algo relevante pra si sendo tratado como piada? Duvido.


Para mim, menos sinceridade que o “Poema em linha reta” de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) não dá. Gosto de uma sinceridade escancarada. Uma sinceridade faz com que a pessoa “se confesse”, que se expresse profundamente. É dessa capacidade de se posicionar que falo: a voz íntima que se despe de todo o orgulho e que deixa fluir. Isso é o que chamaria de “revelar-se”.


Do meu ponto de vista, é esse tipo de relacionamento que é real e recíproco. Lembro da frase de Zeca Baleiro: “as vezes me preservo noutras suicido”. Se houver um no casal ou um entre dois amigos que se preserva, enquanto o outro se suicida, a incompatibilidade é certa. Acredito na prosperidade apenas em caso de “suicídio”, em caso de “dar a cara a bater”, de ser direto (a), de dizer o que sente e o que pensa. Menos que isso, não é verdadeiramente RELACIONAR-SE.


Novamente recorro ao poeta Pessoa:

“Como é por dentro outra pessoa

Quem é que o saberá sonhar?

A alma de outrem é outro universo

Como que não há comunicação possível,

Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma

Senão da nossa;

As dos outros são olhares,

São gestos, são palavras,

Com a suposição de qualquer semelhança

No fundo.”


Se o poeta estiver certo, e realmente não seja possível conhecer outra alma por dentro, então, se não pudermos conhecer os gestos e as palavras mais sinceras, conheceremos o que de outra pessoa?



Jeice Campregher




terça-feira, 4 de maio de 2010

Explicação de "Pessoa fucoteando"

Olá (estranho escrever "sei lá pra quem", não estou habituada). Pois bem, bem-vindo Sr. ou Sra. “Sei lá quem”. Nada mais justo que começar explicando a origem do título "Pessoa Fucoteando". Alguns, com muita intimidade, já devem ter matado a charada. É uma referência aos meus autores favoritos: Fernando Pessoa e Michel Foucault. Pessoa (e seus heterônimos), na literatura (portuguesa): poeta, múltiplo, multifacetado, profundo, louco (?), misterioso, silencioso, observador. Ele foi apresentado a mim durante o curso de Letras.

Bem, a referência ao nome dele foi feita, pois, volta e meia, trarei a este blog as artes que mais me agradam (música, artes plásticas, literatura, cultura negra). Além disso, "Pessoa" também remete à espiritualidade, afinal, entre seus três heterônimos, há um que é o mestre: Alberto Caeiro - e, certamente, neste blog não conseguirei fugir das visões espiritualizadas (oriental, ocultista, etc) que compõem meu ser. Ricardo Reis, outro heterônimo, também fala muito da natureza e de uma vida leve, desapegada. Enquanto Álvaro de Campos, que é meu favorito, é o oposto: é o eu intenso de Pessoa, que grita, que geme, que vê um mundo agressivo e hostil. Enfim, Pessoa é a própria representação de tudo o que podemos ser em uma só pessoa.

Quanto ao termo “fucoteando”, como já disse, vem de Foucault: filósofo/historiador francês, profundo, destemido, inovador... ousou "saltar" das correntes de pensamento de seu tempo (isso é possível?) e, então, passou a refletir de uma forma (relativamente) diferenciada a relação do homem com o saber, os discursos, o (s) poder (es), as instituições, as relações, as subjetividades... Foucault eu conheci/estou conhecendo no mestrado (o que seria da minha pesquisa sem ele??? Aliás, o que seria do "eu pesquisadora" sem ele???). Neste blog, então, quando estiver "fucoteando", na verdade, estarei filosofando, ou até questionando algum "discurso" que me incomode (alguns me incomodam, fazem-me pensar: “por que essa é uma verdade? Por que todos a repetem e ninguém pensa sobre ela?”. Falando em verdade, para Foucault, não existem verdades: tudo é discurso).

“Fucoteando” foi escrito assim, pois a pronúncia do nome Foucault resume-se a “fucô". Simples, né?! Franceses complicam até a escrita. Deveria ser “Michel Fucô” e pronto, pra que tanta frescura? Enfim, usar a palavra “fucoteando” também é um jeito de anunciar que, por vezes, a minha filosofia será de boteco: informal, brincalhona, tentando construir algum humor (se vai dar certo, não faço ideia).

Este blog ganhará cara a medida que eu for o construindo. Adianto que será múltiplo. Coisas minhas, coisas de Foucault e de Pessoa, coisas de outros autores. Coisas curtas, tipo "pensamento do dia" ou "despensamento do dia"; coisas longas, quase bíblicas, cansativas, que duvido que alguém consiga terminar de ler.

Já gostei disso aqui! É uma espécie de fuga: estou um pouco cansada da escrita acadêmica (tudo minuciosamente controlado e calculado). Tenho que me acostumar a escrever sem destinatário concreto.

Ah, e sumam daqui, plagiadores. Respeitem a autoria deste blog, ou não terei piedade de vocês há-há-há-há-há (risada maquiavélica).

Jeice